segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Poesia, poesias e interpretações...

agradeço pelo peru selvagem e os pombos passageiros, destinados a virar merdas nas saudáveis tripas americanas.
agradeço por um continente a espoliar e envenenar.
agradeço pelos índios por garantirem uma módica dose de desafio e perigo.
agradeço pelas vastas manadas de bisões para matar e depelar e depois deixar as suas carcaças à putrefação.
agradeço pelo troféus de caça de lobos e coiotes.
agradeço pelo sonho americano, por inventar lorotas até que elas brilhem à luz do dia.
agradeço pelo ku klux klan. aos policiais que matam negros e os contabilizam. às decentes beatas de igreja com suas mesquinhas, interesseiras, feias e perversas caras.
agradeço pelos adesivos de "mate uma bicha em nome de Jesus Cristo".
agradeço pela aids de laboratório.
agradeço pela proibição e guerra contra as drogas.
agradeço por um país onde a nínguem é permitido cuidar de seus próprios problemas.
agradeço por uma nação de dedos-duros.
agradeço, sim, todas as lembranças - ok, deixa eu ver o que você tem nas mãos!
você sempre foi uma dor de cabeça e uma encheção de saco.
agradeço pela última e maior traição do último e maior sonho dos sonhos humanos.

William Burroughs, 1986
e para complementar:
"Meu negócio é poesia. Ao produzir não posso controlar o que as pessoas farão depois, dizer o que elas devem fazer com suas próprias mentes. E nem gostaria, eu seria um ditador. O melhor que posso fazer é propor alternativas e me abrir às pessoas que queiram aprender comigo." - Allen Ginsberg

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Melhor não tê-los...

Poema enjoadinho

Filhos . . . Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete . . .
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los . . .
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

Vinícius de Moraes

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O modesto

O Peão é a mais modesta das peças de xadrez, e cada jogador conta com 8 peões no início do jogo, na segunda fileira (ou sétima, no caso das pretas). Quando se dão valores paras as peças, geralmente se toma como unidade básica o próprio peão, que assim valerá 1. O peão movimenta-se sempre para a frente, sendo a única peça que não pode retornar ou retroceder. Na primeira jogada de cada peão, ele tem a permissão de andar uma ou duas casas, mas nas outras o peão que já foi movido pode mover-se apenas uma casa de cada vez.

O peão também tem uma característica interessante: Ele captura de forma diferente ao seu movimento. O peão captura sempre a peça que está na próxima linha, mas nas colunas adjacentes à sua posição. Assim, um peão em e4 pode capturar quaisquer peças inimigas que estejam em d5 ou f5.

Uma jogada especial com a qual o peão conta é a tomada en passant, ou captura na passagem, em que um peão avançado captura um peão que ande duas casas em seu primeiro movimento. Quando o peão chega à oitava casa, ele é promovido: ele é retirado do tabuleiro e é colocada em seu lugar qualquer outra peça, geralmente a Dama, exceto o Rei. Um jogo pode desta maneira ficar com duas ou mais damas de uma mesma cor, ao contrário do que muitos pensam. Em certas situações, se for escolhida a Dama para a substituição, o jogo pode terminar empatado, justificando a escolha de outras peças mais adequadas.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Quem tem medo do TSE


Ano de eleições abarca diversos casos dos quais a lei se encarrega de punir, ou, em certos casos, de simplesmente amedrontar. Os responsáveis pelas campanhas eleitorais sabem o que terão de enfrentar, por isso, estudam as diversas formas, novas ou não, de contornar tais regras frágeis de nossa legislação.
A propaganda eleitoral tem evoluído com sua veiculação em diversas mídias novas – meios relevantes de divulgação em campanhas ferrenhas, como, no caso, a da presidência da república. As regras estabelecidas vão desde linguagem apropriada até data de inicio do período eleitoral. Em outras palavras, é proibida (sujeito a multa) a propaganda política antes do período oficial. Entretanto, como na guerra tudo vale, as leis já não importam como a corrida eleitoral.
Partindo de uma situação fictícia com embasamento real, a até atuante em se tratando do período eleitoral em voga, veremos como um partido político de grande porte assume certos riscos, legais ou não, em prol de sua campanha.
Tomamos como centro um forte candidato ao Senado brasileiro. Antes do período legal de propaganda política, como se trata de um político já atuante em algum alto cargo público, ele viaja e participa de eventos públicos (inaugurações, cerimônias, festas beneficentes). Nesses encontros ele pode pronunciar-se de modo que se interprete uma autopromoção, que pode, em primeira instância, ser declarada promoção político-eleitoral antecipada. E não se trata apenas do que o candidato pronuncia, apenas a sua presença ou a propaganda por trás de sua intenção no local podem ser interpretadas como tal.
Se o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), órgão oficial regulador da legislação eleitoral no Brasil, decidir que realmente ocorreu promoção eleitoral em período anterior ao definido, o partido receberá uma multa que varia dos R$ 5 mil aos R$ 25 mil.

O candidato (ou, como trata-se de um período anterior ao eleitoral, o pré-candidato), indiciado pelo TSE e o partido multado, repete a situação de aparecer em público realizando suposta promoção eleitoral. Mais uma vez o caso é estudado e a mídia, pró ou contra, já libera seus protestos acerca das excentricidades da eleição no Brasil.
O profissional responsável pela imagem do político da situação precisa driblar esses infortúnios e evitar uma queda antes mesmo do real início da campanha ao Senado.
Entretanto, as leis geradas para regulamentação eleitoral possuem valores para multar e isso apenas. O acúmulo de situações como essa apresentada apenas geram mais multas que, para partidos eleitorais de grande porte, são receita ínfima e podem ser pagos sem maiores problemas. Ou seja, o candidato participa de vários eventos com o princípio de se promover sabendo que será multado, sua campanha, desde o princípio, reserva parte da receita para essas multas. No fim, o partido vence impune.

O responsável pela propaganda política, como vemos muito em nosso país, vez realiza um trabalho impecável vez testa a ignorância alheia. Contudo, grandes candidaturas foram fruto de um árduo trabalho de construção de imagem, a qual é única referência política para a maioria do povo brasileiro, daí sua importância.
Tomar as brechas da legislação como arma para campanha é fatalmente nocivo à imagem tanto do candidato quanto da crença, já defeituosa, da população na política nacional. Na eleição, para qualquer tipo de cargo deve-se assumir posturas éticas, evitar conflitos, construir identidade com as pessoas. Nesse caso, a presença do político nos eventos pré-período eleitoral deve ser apenas com fim de auxilio e/ou representação do cargo que assume. E os interesses nem próprio nem do partido devem ser postos à frente da ética na maneira de fazer política.

Não jogamos todos os partidos, candidatos e responsáveis no mesmo gênero mal-intencionado. Mas a devida importância deve ser intencional de todos os envolvidos. O partido em suas ideologias, o político em suas promessas e o responsável pela campanha em suas metas. Metas que envolvem a construção do candidato para a mídia divulgar. Um trabalho que envolve as promessas feitas, os benefícios para a democracia e a estrutura para um processo eleitoral saudável, porque, como citei anteriormente, essa imagem midiática é, para muitos brasileiros, a única fonte referencial na escolha de quem votar em seis de outubro. Doa a quem doer.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

é melhor evitar os escritores

"Tem um problema com os escritores. Se o livro de um escritor foi publicado e vendeu um montão de cópias, o cara se acha um grande escritor. Se o livro de um escritor foi publicado e vendeu um número razoável de cópias, o cara se acha um grande escritor. Se o livro de um escritor foi publicado e vendeu muito poucas cópias, o cara se acha um grande escritor. Se o livro de um escritor nunca foi publicado e o cara não tem dinheiro suficiente pra publicá-lo por si mesmo, aí é que ele se acha de fato um grande escritor. Mas, a verdade é que há muito pouca grandeza. Quase inexistente. Invisível. Pode estar certo que os piores escritores são os que têm mais autoconfiança e se põem menos em dúvida. De qualquer jeito, é melhor evitar os escritores; é o que sempre tentei fazer, mas é quase impossível. Eles sonham com uma espécie de irmandade, de união. Nada disso tem coisa alguma a ver com escrever, nada disso ajuda na máquina."


Charles Bukowski