O inconsciente pode ser interpretado de muitas maneiras e, em algumas situações, socialmente apreciado por viés de faculdades artísticas e de seus regedores avançados. Além disso, muito dessa questão está presente no cinema, mais difundida das artes dentro do campo social.
A maneira inconsciente de assimilarmos as coisas advém das dezenas de horas que absorvemos informações direta ou indiretamente. Cabe aqui, a exemplificação da denotação e conotação. Denotação é o significado que invariavelmente é adotado para uma determinada coisa, ou seja, a mais simples das explicações (uma chave, por exemplo, é um objeto de ferro moldado com o fim de abrir fechaduras). Já a conotação é integrada à noção cultural, intelectual, por isso em cada individuo possivelmente prevalecerá um significado diferente (uma chave que abre portas, que desencadeia reações, que revela segredos, chave da situação, chave do coração, etc.).
Essa última é a grande inspiração dos tão perturbados artistas declamadores da problemática da vida. Contudo, o artista - seja ele ator, pintor, escultor, cineasta, poeta - deve promover sua conotação de tal maneira que os espectadores possam interpretá-la de tal jeito que não apenas sua noção, até ali vigente, permaneça sendo a pedra fundamental.
A habilidade do artista em não ser absurdo, mas em brincar com a razão, e, por fim, semear assim certo crescimento intelectual, é a grande diferença. Mas nem tudo é fácil no aprender com as grandes artes. Se a absorção fosse assim tão leve, os livros deixariam de ser lançados na forma tradicional, mas nasceriam roteiros prontamente encaminhados para o público geral.
Os grandes mestres não nascem tal qual o são. Para alcançarem o nível de conotação visto em suas carreiras, passaram por muitos equívocos fundamentais e revelações processuais. Entende-se assim a sua moral abdicada de noções clássicas. Portanto, eles não farão fáceis as percepções de seus sentidos aguçados sobre a mente humana, o caminho é árduo, contudo, a recompensa é gratificante. Com subjetividades quase imperceptíveis, moral subliminar e tantas nuances impecáveis, o trabalho final não visa formar nichos de intelectuais, mas aproximar as pessoas começando pelo fundo de suas mentes.
Antes de tudo, é invariável a importância de, excluindo as produções recorrentes de expressão inócua, ver, ler e assistir não somente às obras, mas aos autores. Sem isso, a percepção será de irrisório valor. Como entender, se não, o surreal
Cada um desses - e tantos outros - tem dentro de si essas diversas noções que regem o mundo. Noções que, quando expostas, trazem uma reeducação sobre tudo existente até o dado momento. Concomitante a isso, os espectadores esperados pelo artista, aqueles que estão preparados para o aprendizado que terão, recebem a mensagem e oficializam o processo artístico.
Assistir a David Lynch é, além de tudo, uma experiência, seja ela fonte de percepção ou de desilusão, isso porque ele insiste em mostrar quase tudo com subjetividade. Sendo um dos mais cultuados diretores de sua geração - diretamente influenciado pelo também mestre do surrealismo no cinema, Luis Buñuel -, alcançou credibilidade apoiando a liberdade criativa, sendo a sua criatividade um patamar difícil de ser transposto.
O que ele pede a quem assiste a seus filmes é atenção e, por fim, nem tanta atenção assim. Muitos elementos presentes reverberam além da trama, e assumem a condição de profanadores da razão. Lynch submete-se a descortinar o fantástico, insano, e, certas vezes, irracional da realidade (proposta executada com certo abuso, segundo alguns), sem com isso concluir de modo racional esse ambiente, uma vez que não é essa sua tarefa. Os mistérios continuarão lá, e continuarão assim sendo, porém um novo viés de procura estará à disposição para o próximo passo. Pois, como dito antes, não cabe a ele - e aos muitos outros mestres, citados ou não - a função de responder o inexplicável, mas sim de explorar com esmero as inúmeras possibilidades advindas das catacumbas da mente humana.
ATENÇÃO! é o alimento que o artista quer de quem vai gozar de sua obra..
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