terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Onze dias para escrever sobre o ano novo

final de ano. final de ano sempre surge com outra coisa mais duvidosa, o começo de outro ano. e parece que se vc não acorda no dia primeiro de janeiro sem uma sensação de nova etapa inaugurada vc é um desalmado negligente com o poder do universo. alguns acordam diferentes sim, com uma sensação muitas vezes desconfortável, mas isso contabiliza-se com os efeitos de uma madrugada desregrada com cervejas, whisky, vinho e vez ou outra umas drogas da rodada. Afinal, viver um dia após o outro é sim inaugurar cada levantar da estrela maior como sendo uma troca de ano, com as devidas comemoração e emoção internas. Isso não se aprende de uma hora para outra, os dias deixam de ser comemorados e passam a ser simplesmente apagados, esses dias viram semanas, essas semanas viram meses, e esses meses viram um conjunto de doze que simbolizam algo à muito perdido. Mas o sol mesmo assim nasce, apesar da preguiça humana, apesar do deleite do injusto, apesar das falsas promessas, julgamentos e intenções, em suma, apesar dos pesares, o astro maior soergue-se de sua reclusão do outro lado do planeta e atinge as vistas de quem estiver testemunhando-o. inunda com seus raios nossas mentes para dizer o que pretende enquanto impera no céu: hoje é um novo ano, mas tabém é um novo dia.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Está para nascer -

Pode ser eu, você, nós, usted e todo mais aquele não saber idiota. Mas eu sinto. O samba embala. O álcool também. A poesia nos trai com a força que não temos mais controle. Ela nos desmascara e ri de tudo isso. Nós - ah nós - ficamos ajuntando os retalhos, com cara de exuberantes primaveras com cheiro de inseto e chuva. Tudo parecia tão lindo, mas nos trazia grandes responsabilidades - Vai nascer, mas se preparem! - Tolos! - Estúpidos! - Vagabundos! - Aprendam! - Pois é como Jesus disse "A muito será dado e a muito será cobrado" - Ou algo assim. Mas está nascendo. Cabeças pensantes, cheias de ideias encaracoladas. Perdidas na vastidão que - é as culturas - ou o que dizem ser. Vamos também abalar estruturas? Não isso não. Vamos abalar nossas estruturas - Só idiota vem junto. Ah deixe estar. Muitas vezes ela já nasceu. Malditos iluministas. Iluminados malditos - Voltaire, Locke, et cetera - Morreu nos braços suaves dos idiotas clássicos. Não existia tempo - Compassos quebrados. Mas agora é a hora. Felicitações pelo o que vai nascer, ou pelo o que já foi. Contente-se com isso. Mas não pare - Nunca pare! Faça-a nascer Privilegiado De Viver!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Um apartamento em Copacabana

O ano era 1958, um baiano de Juazeiro interpretava "Chega de Saudade" e inseria de vez um novo movimento na cultura popular brasileira, com formato original de compor e interpretar. O tal baiano era João Gilberto. Os compositores eram o maestral Antônio Carlos Jobim, e o diplomata poético Vinicius de Moraes. Desse tripé nasceu a bossa nova, ritmo genuinamente brasileiro, onde o samba assumiu como a matriz musical, e a forte influência norte-americana nos seus arranjos jazzísticos dava a complexidade que não se via na cultura brasileira.
A década de 1950 foi o auge do american way of life, respingando na economia de diversos países, inclusive os latinos-americanos com o uso (e abuso) de bens materiais como os eletrodomésticos, e o direcionamento de recursos naturais como o petróleo. No Brasil o período pós-JK despertou um sentimento nacionalista com o tal dos 5 em 50, a construção de Brasília trazia uma expectativa de um novo país em nascimento, e a ideologia racionalista caracterizada pelo forte desenvolvimento urbano e o crescimento tecnológico prometia colocar a nação finalmente nos trilhos. Os dribles de Pelé e Garrincha, enchiam de suinge e orgulho a alma do brasileiro, quando o primeiro título mundial chegou as terras tupiniquins. A arte como a mais fiel das expressões de uma época, também entrou nesse contexto pós-guerra aqui no Brasil, assumindo uma papel mais concreto, sem a subjetividade que ia contra os preceitos racionalistas. Em resumo tudo era novidade, inclusive a música, que antes de 1958, recebia forte influência nordestino com a gaita de Luiz Gonzaga, e o romantismo impregnado nas composições era carregado, demasiadamente, de tristeza profunda, o samba fossa como era chamado. Nada combinava com o contexto social e com a alegre e inquieta alma brasileira.
A bossa nova seguiu essa onda de novidade, um ritmo condensado pelo trio João, Tom e Vinícius, oriundos da classe média emergente carioca, mudou a cara e o modo de ver da música popular brasileira. Voz e violão eram um só. A batida era envolvente. O cool jazz de Miles Davis, influência direta na bossa nova, foi abrasileirado e contagiado pelas nossas belezas. As melodias cheias de idas e vindas, eram o reflexo da juventude compositora. Mas tudo isso não era bem visto pelo mainstream da época. A escancarada influência da música erudita e do jazz, a complexidade das melodias, seu caráter mais intimista nas apresentações e a "elitização" do samba não deu bons olhos ao movimento pois houve grande descaracterização do samba "autêntico". A mudança era inevitável. Já estava fomentado uma nova cultura no país, um novo movimento de emergência no país, com uma outra visão, proporcionando um intercâmbio social com a cara cada vez mais brasileira.
O samba que vinha da Zona Sul carioca já era outro. O mundo também. A importância da bossa nova na música mundial é enorme. Gartota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, é uma das músicas mais tocadas no planeta. Os gringos começaram a olhar para a criatividade brasileira de outra forma. Crescemos culturalmente. A influência do estilo é clara no que viria depois. O tom de protesto que a arte brasileira assumiu em seguida com a tropicália, ganhou contornos mais suaves, abrilhantando mais a inconformidade perante a ditadura. O caras ficavam trancados em seus ricos apartamentos e não iam para as ruas? Tudo bem. Fazer arte também uma forma de protesto. Abra um bom whisky, sente e aproveite uma bossa nova.


"Eis aqui esse sambinha


Feito numa nota só


Outras notas vão entrar


Mas a base é uma só"


- Samba de uma nota só (Newton Mendonça/Tom Jobim)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Dilma, Serra e Pilatos


Época de eleição é como um disputado jogo de cartas, onde a última rodada é sempre a detentora da maior tensão, do maior empenho dos jogadores. Como qualquer jogo de apostas altas, os melhores blefes ficam para os últimos momentos, e os curingas mostram as caras na mesa. As surpresas são tantas que os viciados no jogo deixam escapar alguns truques, e não tarda em aparecer na mesa carta de curinga a mais que o baralho pode suportar. A segunda etapa do ciclo eleitoral, que toma o mês inteiro de outubro, dobrou o ritmo de trabalho dos marqueteiros de ambos os lados. Antes, o manejo era com todo o tipo de construção de imagens dos candidatos, agora, o processo é contrário, de desconstrução desmedida da figura rival. Nessa corrida muito mais frenética por números decisivos não é difícil ouvir mais o nome de certo candidato na propaganda do seu concorrente.


Disputa entre dois opostos, voz do povo, triunfo e fracasso, características que juntas já fizeram parte de outros eventos históricos que não esse qeu veremos o desfecho em poucos dias. Todos lembram de Jesus Cristo e Barrabás que, defronte o povo romano, à testemunha de Pilatos, tiveram o destino decidido pele voz aqueles ali presentes. Barrabás, delinqüente capturado, e Jesus, visionário pouco celebrado, tiveram suas vidas mudadas pelo que era considerado na época uma votação justa. Não que o criminoso Barrabás fosse pessoa do feitio da população da época, mas é que Jesus não havia feito uma campanha de sucesso para com o povo romano daqueles anos.


Essa segunda parte da eleição elevou os dois candidatos restantes à representantes dos julgados de Jerusalém no século XXI. Martirizando-os de tal modo (cada qual da maneira que as mentes de seus marqueteiros arquitetam) que fica a grande dúvida: quem, afim, na soma de suas propostas e denúncias, é para ser figurado como o bom da história. Cenários não faltam, mas a procura por deixar a população a par do que seu candidato fez ou não fez confunde e distancia novamente o eleitor da realidade política. Retorna o voto forçado, obrigatório, pelo simples fato de não saber no que acreditar.


A mistificação das figuras à frente dos dois maiores partidos do Brasil, relacionada com o episódio de Jesus e Barrabás, talvez não tenha seu fundamento em quem representa quem de acordo com a característica de cada um dos condenados, mas sim do que veio a representar seus destinos a partir dali. Afinal, a vitória na candidatura da presidência pode figurar tanto a condenação de Cristo quanto a liberdade de Barrabás. A resposta virá nesses próximos quatro anos após o veredito.


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Em defesa do romance - Mario Vargas Llosa


(…)

De uma maneira sub-reptícia, as palavras reverberam em todas as ações da vida, até mesmo nas que parecem muito distantes da linguagem. Isso, na medida em que, graças à literatura, evoluiu até níveis elevados de refinamento e de sutileza nas nuances, elevou as possibilidades da fruição humana, e, com relação ao amor, sublimou os desejos e alçou à categoria de criação artística o ato sexual. Sem a literatura não existiria o erotismo. O amor e o prazer seriam mais pobres, privados de delicadeza e de distinção, da intensidade a que chegam todos aqueles que se educaram e estimularam com a sensibilidade e as fantasias literárias. Não é exagero afirmar que um casal que haja lido Garcilaso, Petrarca, Góngora e Baudelaire ama e usufrui mais do que outro, de analfabetos semi-idiotizados pelas séries de televisão. Em um mundo iletrado, o amor e a fruição não poderiam ser diferenciados daqueles que satisfazem os animais, não iriam além da mera satisfação dos instintos elementares: copular e devorar.

(…)

O artigo completo em revista Piauí_37

sábado, 2 de outubro de 2010

Uma noite em 67


__Sábado. 21 de outubro. Uma noite em 67. O quase quarentão Teatro Paramount, na Avenida Brigadeiro Luis Antônio, 79, em São Paulo, está abarrotado de gente, pessoas que deixaram suas casas em pleno sábado à noite para torcer, mas não por um time de futebol, e sim por uma música. Doze artistas vão cantar para um júri que irá escolher a melhor canção de 1967, e esse júri não tem a mínima idéia (artistas e público, muito menos) de que esta noite entrará para a história. Uma noite em 67, documentário de Renato Terra e Ricardo Calil sobre a finalíssima do 3º Festival da Música Popular Brasileira, é a História sendo revista. Ali, no Teatro Paramount, a tradição (Chico Buarque) encontrava a revolução (Caetano Veloso e Gilberto Gil com respaldo dos Mutantes) e as faíscas desta noite emblemática chacoalharam o Brasil por vários e vários anos.


__Uma noite em 67 ajuda a retomar o olhar para um período em que, sem sombra de dúvida, a música brasileira era a melhor do mundo. Roberto Carlos contando piadas nos bastidores, apresentadores de televisão fumando cigarro em frente às câmeras, Caetano tentando explicar a pop-art e se enrolando, Chico tropeçando na palavra “telespectadores”, tudo isso (e muito mais) é um retrato em preto e branco de uma época maravilhosa de nossa música que passou, e que o rock nacional dos anos 80 tratou de chutar para bem longe (assim como o punk fez com o progressivo nos EUA e na Europa), mas que a nova geração redescobriu e voltou a valorizar. Há uma ligação (às vezes imperceptível) entre Luisa Maita, Nina Becker, Rômulo Fróes, Tulipa Ruiz e Wado (para citar cinco de uma lista imensa) com os eventos que aconteceram naquela noite de outubro. Quarenta e tantos anos se passaram e cá estamos, armados de boas canções, preparando uma nova revolução. Somos um, somos dois, somos cem. Não espere acontecer.




revista Noize#37 setembro 2010