sábado, 2 de outubro de 2010

Uma noite em 67


__Sábado. 21 de outubro. Uma noite em 67. O quase quarentão Teatro Paramount, na Avenida Brigadeiro Luis Antônio, 79, em São Paulo, está abarrotado de gente, pessoas que deixaram suas casas em pleno sábado à noite para torcer, mas não por um time de futebol, e sim por uma música. Doze artistas vão cantar para um júri que irá escolher a melhor canção de 1967, e esse júri não tem a mínima idéia (artistas e público, muito menos) de que esta noite entrará para a história. Uma noite em 67, documentário de Renato Terra e Ricardo Calil sobre a finalíssima do 3º Festival da Música Popular Brasileira, é a História sendo revista. Ali, no Teatro Paramount, a tradição (Chico Buarque) encontrava a revolução (Caetano Veloso e Gilberto Gil com respaldo dos Mutantes) e as faíscas desta noite emblemática chacoalharam o Brasil por vários e vários anos.


__Uma noite em 67 ajuda a retomar o olhar para um período em que, sem sombra de dúvida, a música brasileira era a melhor do mundo. Roberto Carlos contando piadas nos bastidores, apresentadores de televisão fumando cigarro em frente às câmeras, Caetano tentando explicar a pop-art e se enrolando, Chico tropeçando na palavra “telespectadores”, tudo isso (e muito mais) é um retrato em preto e branco de uma época maravilhosa de nossa música que passou, e que o rock nacional dos anos 80 tratou de chutar para bem longe (assim como o punk fez com o progressivo nos EUA e na Europa), mas que a nova geração redescobriu e voltou a valorizar. Há uma ligação (às vezes imperceptível) entre Luisa Maita, Nina Becker, Rômulo Fróes, Tulipa Ruiz e Wado (para citar cinco de uma lista imensa) com os eventos que aconteceram naquela noite de outubro. Quarenta e tantos anos se passaram e cá estamos, armados de boas canções, preparando uma nova revolução. Somos um, somos dois, somos cem. Não espere acontecer.




revista Noize#37 setembro 2010

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