sábado, 22 de maio de 2010

Nós, esses primitivos


O início da civilização, historicamente documentado - sempre vítima de possíveis contradições -, deu-se com o primeiro relato de organização coletiva (princípios de comércio) de nossos parentes demasiadamente distantes. antes disso havia a barbárie, a razão ainda em modo embrionário enquanto o instinto dos homens (ainda não homens como se define hoje mas já em sua mais simples definição), avizinhado com o dos animais que com eles conviviam, dominava corpo e mente.

A evolução trouxe consigo um meio de vida adaptável a todos os ambientes. O homem é o único ser que, dotado de seus instrumentos e habilidades desenvolvidos, tem a capacidade de recriar seus sistema social fértil sobre qualquer terreno, seja ele gélido ou escaldante, denso ou rarefeito . Diz-se sistema social fértil aquele no qual o homem inicialmente desenvolveu-se e para ele nasceu. Maior ainda foi o salto subseqüente à revolução industrial. Ali o homem definiu o que tornar-se-ia a primazia da sociedade. Debruçada sobre os aspectos do desenvolvimento humano, bens comuns e crescimento social, a razão monetária assumiu a função de distribuir tudo isso em equilibrada disposição para todos. Beneficiaria a todos os homens e a integridade de seu curso histórico - cada vez mais distante da barbárie, do instintivo, da forma como nascera.

Entretanto, algo saíra do controle. E não é de agora que alguma coisa muito errada permanece em foco.

Nunca se esteve tão distante do meio primordial, o ambiente essencial. Contrário a isso, o homem utilizou-se da habilidade em recriar seu “berço fértil” abusivamente. Por tantas vezes recriou-o e adulterou-o que quase a totalidade de seu índice perecera. No lugar ficaram o sintético e o ilusório, porque aprendeu-se que viver de ilusões é demasiadamente menos trabalhoso que buscar o real sentido das coisas.

Infestamos tantos territórios do planeta com nossos ambientes recriados - e a muito tempo específicos - que agora queremos migrar as outras criaturas e seres para esses ambientes de limitada aceitação. Criaturas e seres que mantiveram seus laços com o berço intactos e permaneceram assim desde sempre. O homem, ser racional e, conseqüentemente, superior, assumiu julgar o que é melhor para todos, graças a isso, nunca ouviu-se tanto em desigualdade racial, extinção e colapso ambiental.

O que saíra do controle fora o crescimento da civilização. Crescimento em termos de consumo, necessidades e prioridades. Tanto foi criado para a população que sua grande parte não sabe porque consome, deseja ou prioriza certas coisas. Mas de uma coisa eles sabem, que estão evoluídos e não são mais primitivos, incultos e bárbaros. Ou isso ou eles sabem muito menos do que imaginam saber. E, diante de alguns estudos recentes sobre nossos antigos, a população realmente não sabe muito das coisas.

Antigas etimologias transformaram noções supérfluas em verdades constantes sobre a organização do homem. Foi óbvio traduzirem toda a existência anterior às grandes mudanças como intolerante, brutal e irracional. Entretanto, o modo de vida, em seus princípios grupais e coletivistas demonstrou ser uma forte base para uma sociedade respeitável. Seus integrantes somavam suas ações com as da natureza e assim tornavam o meio íntegro com seu estilo de vida (acompanhado das criaturas e seres, sem domesticação, repreensão ou dominação). Obviamente eles nem beiraram ter noção do que viriam a se tornar suas próximas gerações. Mas, se por um momento soubessem como evoluíram intelectual, hábil e tecnologicamente, com certeza acreditariam que o que construíram seria lembrado e estudado para, no futuro, ser copiado e periodicamente melhorado.

É fortemente crucial olhar para o que fomos, como vivemos e porque mudamos. Entender como a evolução, em primeira instância, moldara o modo social de agir (antes de ser agredida por elementos externos tomados como prioritários) e assim, compreender o que fez o homem substituir a civilização pela barbárie.

3 comentários:

  1. Interessante.
    Concordo com esse olhar "retroativo".
    Há tempos urge essa necessidade da genealogia, que Nietzsche anunciou.
    Quando volvemos nossos olhos para o passado podemos, além de re-ver o que nos mostraram anteriormente, remexer nessas cinzas e encontrar muitas vezes algo quer era de uma forma e os interesses e diversos outros fatores geraram umrompimento com o originário, mais legítimo.

    Parabéns! Ótima investigação/post.

    sds
    SUPER RAFA

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  2. Tão lento quanto agir, tão rapido como pensar. Já sabemos aonde ir, é mais rápido nosso trilhar. Esse é o nosso momento.

    O texto é um "Gesto Norteador."

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