sábado, 5 de junho de 2010

Sartre e a fugacidade do tempo





Jean Paul Sartre, em seu O Ser e o Nada, mimetiza idéias filosóficas bastante instigantes, parte de sua corrente existencialista a qual notabilizou-o como um dos maiores pensadores do século XX. Nela, Sartre disseca um de seus temas mais recorrentes - o tempo - e analisa detalhadamente a angústia enquanto condição humana. Inicialmente é crucial saber discernir medo de angústia, onde o primeiro parte do medo dos seres do mundo, enquanto o segundo parte de si mesmo.


Um exemplo bem abrangente sobre isso seria a vertigem causada pela aproximação de um precipício. O medo surge das condições apresentadas (altitude, terreno acidentado e/ou frágil, vento), já a angústia é referente à razão humana e sua tomada de decisões, ou seja, não é o medo de cair do precipício, mas de se jogar dele. Retornando ao assunto largamente apresentado por Sartre, o tempo é efeito indissociável da presença ou ausência dessa angústia. Se o indivíduo resolve trabalhar seus medos para assim, indiretamente, afastar as possibilidades (os possíveis possíveis).

Sendo assim, em uma análise mais profunda, tomando como foco o tempo, o “eu” presente, que está enfrentando a situação, depende do “eu” ainda não existente, o “eu” que ainda não é. Como no caso apresentado, a possibilidade suicida ocorre simbolicamente, e isso separa o “eu” com possibilidades de se atirar do “eu” contrário a essa possibilidade. Isso acaba gerando uma contra-angústia que denominasse indecisão, que, por fim, faz o individuo decidir por se afastar do precipício.

A simples situação sintetiza, com seus diversos pontos (angústia, tempo, homem), a tendência de carregar memórias e experiências ao longo da vida na busca de valorizar, e, de certa forma, acobertar, o pequeno facho de existência que ocupamos dentro da insustentável infinitude de tudo o que nos cerca.
Em se tratando das memórias, são claramente representadas na retratação do passado em fotografias - em suas diversas formas, situações e fins. A angústia, nesse caso, não abrange apenas situações de vertigem ou traumas adquiridos de experiências antigas, cabe aqui a angustiante noção do homem como ser da sociedade, ser do mundo, e - uma das mais complexas problemáticas - sua angústia diante da morte.

O filósofo afirma que o homem está condenado à liberdade, entretanto, o “ser livre” consiste não em poder escolher os diversos caminhos, mas em determinar-se a escolher um entre todos. Visto isso, cabe concluir que toda e qualquer conseqüência nascida da tomada de decisão é, por justa causa, responsabilidade de quem a tomou. Sobre a morte, é irrevogável sua iminência e relevância frente à existência. Invariavelmente, por mais injusto que o pareça, a curta vida, quando atingido seu auge, ficará marcada pelo suspiro final, em outras palavras, seu último maior ato reportará eternamente a consciência viva de seus dias enquanto vivo(a).

O trabalho contrário a essa lei da natureza (pode ser tratada aqui como contra-angústia) seria o desvio de importância sobre a última experiência para as diversas outras adquiridas e acumuladas ao longo da vida, muitas delas servindo como válvula de escape à angústia de não conseguir medir a longevidade da existência. Fotografias de família, de anos juvenis, de uma miscelânea de realizações - profissionais, acadêmicas, atléticas, etc. -, dos mais diversos motivos, em sua grande parte fases positivas, aliviam a necessária fugacidade à derrota, à irrelevância do ser, à nociva insignificância como membro perecível e reciclável do meio social humano.

Por fim, dá-se valor á essa busca enquanto forma de melhoria do ser humano. Muitas vezes a procura por novas fontes de redenção pessoal são enormemente beneficentes à sociedade. Entretanto, as fotografias, peças descartáveis e sujeitas a desfalecerem-se frente ao tempo, fazem uma alusão para que o homem sempre busque se renovar e se render às possibilidades do acaso o qual a conseqüência dos seus atos pode levá-lo.

2 comentários:

  1. bicho
    nem li o texto
    mas é sartre, há de ser bom.
    oq me traz aqui na real, com certa urgência dos tempos
    é pedir qual o nome da tela que é tua imagem do profile do blogger? se não me engano, é de Dalí, não?

    abraços!

    ResponderExcluir
  2. não.
    vi agora a foto, no profile mesmo, e percebi que não se trata do quadro que procuro. hauiahahauhuaihuiahhuah

    mas de qualquer forma, é algo parecido.

    ResponderExcluir